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São Paulo aposta na educação a distância

28 de Julho de 2017381

A Universidade Virtual do Estado vai triplicar seu tamanho ainda neste ano e buscar alunos nas empresas e no exterior, além de recursos próprios. Presidente da Univesp critica regulamentação da EAD, o preconceito contra a tecnologia na educação e começa migração para bibliotecas virtuais e provas digitais

Foto: Univesp
Carraturi Pereira:

O maior projeto de educação a distância do governo paulista, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) abriu inscrições neste semestre para 10 mil vagas, multiplicando por três a sua disponibilidade, e com um curso novo, licenciatura em pedagogia. Não é só: já iniciou tratativas com a Universidade Aberta de Portugal para a realização de cursos conjuntos e utilização de rede de polos, e está aprofundando parcerias com outras instituições do estado, como o Centro Paula Souza, USP, Unesp, Unicamp e prefeituras para oferecer formação cursos de graduação.

A presidente da Univesp, Maria Alice Carraturi Pereira, disse ainda nesta entrevista exclusiva para o Observatório EAD e o site Ache Seu Curso, que acredita na transformação da educação em um contexto híbrido, no qual a tecnologia será uma extensão da sala de aula, e está estimulando a migração das bibliotecas físicas para as virtuais nos polos da Univesp, além de iniciar a aplicação de provas digitais.

A Univesp instaurou uma diretoria nova neste ano. O que muda na política da instituição?
A prioridade da nova direção da Univesp é fazer com que ela alcance todo o estado de São Paulo. Hoje estamos em trinta cidades, e o objetivo é no segundo semestre ampliar para mais trinta, dobrar de tamanho este ano ainda. Estamos abrindo o vestibular agora no meio do ano já com novas cidades e também com um novo curso, Pedagogia. Hoje nós oferecemos quatro licenciaturas, que são Química, Física, Biologia e Matemática, e duas engenharias, Produção e Computação, uma área de grande demanda, muito forte em São Paulo e no Brasil. Para agosto vamos oferecer a licenciatura em Matemática, em Pedagogia e as duas engenharias. Além disso, a partir do próximo ano, começaremos parceria com o Centro Paula Souza, para oferecer dois novos cursos tecnológicos. Há quatro áreas em que queremos nos tornar referência: formação de professor, gestão, engenharia e tecnologia.

E como vai ser esse crescimento?
Um dos critérios é ver o que as prefeituras demandam. Elas são nossas parceiras e serão cada vez mais daqui para frente. Temas como gestão pública e formação de professores têm sido as mais buscadas. As duas áreas foram indicadas numa pesquisa que fizemos junto a essas administrações recentes, que entraram neste ano. A ideia é combinar essas demandas com as condições locais das prefeituras para oferecer o curso em ambientes adequados, e assim cumprir a meta de chegar a todo o Estado, porque hoje estamos bem localizados apenas na capital e em algumas cidades próximas. Por fim, queremos levar educação gratuita ao paulista que ainda não tem o curso superior, que é outro critério para mapear a expansão.

Como estão sendo escolhidos os novos cursos?
São duas fontes: a primeira são os resultados que o INEP nos oferece, e a segunda são as demandas que vem das prefeituras, é assim que nós definimos. Daí vem temas como a política e a gestão pública, além do direcionamento para a formação de professores, a ideia é oferecer um leque cada vez maior de cursos de formação de professores.

Que novidades os professores podem esperar?
Estamos conversando com a Universidade Aberta de Portugal, que nos procurou para fazer uma parceria, e provavelmente vai ser em nível de pós-graduação, na área de educação, para montarmos esses novos cursos de pós com professores daqui e de lá. Já temos também conversas com outras instituições internacionais, pois o curso a distância propicia isso. Temos a intenção de ampliar cursos de lato sensu, porque o professor hoje da educação básica e da rede pública, de modo geral, já tem curso superior, então procuraremos fazer aperfeiçoamento, principalmente nas novas políticas, que são a base nacional comum e a reforma do ensino médio, criou-se com elas uma demanda e vamos direcionar a formação para essas duas políticas.

Como vão ser os novos cursos tecnológicos?
Vamos investir muito nessa área no ano que vem. Junto ao Centro Paula Souza estamos desenvolvendo cursos tecnológicos tanto na área de gestão quanto de tecnologia. A perspectiva é abrir em essas duas grandes áreas, além das duas em que nós estamos hoje. Assim que atingirmos todo o estado, no ano que vem, a ideia é ir para outros estados. Ano que vem lançaremos dois tecnólogos: de gestão pública e jogos digitais. A próxima oferta pretende contar com bacharelados de administração e contábeis. Na área de tecnologia os novos cursos versarão sobre big data, segurança da informação etc.

Que regiões, nesse primeiro momento, vão passar a ter cursos da Univesp?
A ideia é ampliar para a Baixada Santista, Vale do Ribeira, a região de Dracena, Franca, São José do Rio Pardo. No mapa, o que estamos tentando fazer é alcançar todas as macrorregiões, que podem alcançar várias cidades a menos de 200 km para depois começarmos a olhar as que ainda não foram atendidas. A criação do polo requer que se veja algumas questões como as condições da Prefeitura de manter o polo, a infraestrutura e pessoal alocado para organização e manutenção do polo. Também estamos fechando convênio com as universidades públicas do estado (USP, Unesp e Unicamp) para uso de suas estruturas e com a Universidade Aberta do Brasil (UAB), com quem também temos polos e ampliamos a relação neste segundo semestre.

Como são os convênios com as prefeituras?
Elas precisam ter espaço físico compatível com as necessidades de um polo (salas de aula, sala de estudos, secretaria, equipamentos de informática, acessibilidade, pessoal administrativo, manutenção e segurança). Nós fazemos uma visita prévia ao prédio (preferencialmente uma escola ou polo UAB) e quando aprovado, assinamos um convênio com as responsabilidades de cada parte. Sempre consideramos o objetivo de atender as macrorregiões. No segundo semestre faremos um chamamento público para prefeituras que quiserem participar da rede Univesp nas cidades. Há um número mínimo de alunos a serem matriculados em cada polo para que ele possa ser aberto pela prefeitura. Também são considerados dados da cidade, como por exemplo número de concluintes do ensino médio, população, etc.

Que modelo dos polos de apoio presencial que será adotado?
Há critérios sobre como deve ser um polo estabelecido no Termo de Referência enviado para as prefeituras interessadas. Esses critérios são os mesmos do MEC. Como algumas prefeituras têm Fatec, Etec ou UAB, já tem um espaço propício e credenciado. O espaço tem que ter qualidade, bom atendimento e equipamentos. A biblioteca está migrando muito fortemente para a biblioteca virtual. Já há pesquisas indicando que o aluno acessa muito mais livros virtuais do que livros físicos, então, a proposta é migrar para bibliotecas digitais em vez das físicas. Apesar de poder acessar aos livros de forma virtual, é importante que ele tenha espaço no polo para se reunir com o grupo de trabalho, estudar individualmente, além do espaço para a realização de provas. Nossa ideia é cada vez mais digitalizar as provas, e por isso o número de equipamentos e a infraestrutura de rede são importantes nos polos.

O estado de SP está bem servido de internet?
Essa não é uma restrição. Hoje em todos os lugares onde temos polos não há dificuldade com o acesso.

Hoje a Univesp tem quantos alunos?
Temos perto de três mil alunos. Nossa meta é chegar neste ano a dez mil, e mais dez mil no ano que vem. O nosso secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcio França, já anunciou que quer 50 mil alunos em breve, e esperamos alcançar esse número ainda nesta gestão. Está tudo planejado. É claro que vai depender de alguns fatores, como a arrecadação do Estado. No planejamento está também a busca de recursos próprios pela Univesp, de modo a depender menos do orçamento estadual.

Como a Univesp vai conseguir recursos próprios?
Com a pós-graduação lato-sensu, por exemplo, e também com a oferta de cursos de formação para outras instituições públicas do estado que têm a necessidade de formar seus colaboradores e a Univesp pode formatar e oferecer os cursos na modalidade a distância, sua expertise. Elas podem compartilhar seus recursos com a Univesp. Vamos trabalhar muito por essa integração. A educação a distância nos órgão públicos entrará no nosso horizonte para essa sinergia e para propiciar melhor uso dos recursos públicos.

Formação continuada é um bom mercado?
Grande parte dos nossos alunos atuais já têm uma graduação e está fazendo a segunda, porque no ano passado, além do vestibular, houve a oferta de vagas remanescentes para graduados e houve uma grande demanda. As pessoas buscam nova formação para se atualizarem, manter o emprego ou muitas vezes redirecionar a carreira, porque hoje em dia não basta ser empregado, tem que ser empregável, e para isso é importante estar sempre em formação ou redirecionando a carreira à medida que o contexto muda. Muitas vezes a pessoa foi formada e escolheu uma carreira há 20 anos, mas a carreira foi mudando e ela precisa de mais recursos para prosseguir evoluindo nela. O foco é no mercado e no emprego, sem dúvida. A atualização de conhecimentos se faz necessária neste mundo tão rápido e transformador.

Qual o tamanho desse mercado?
Se formos olhar todas as carreiras, há necessidade em todas elas de atualização, aperfeiçoamento e inovação. A formação de professores também é uma das áreas que requer formação constante. No estado de São Paulo temos cerca de 220 mil professores, só na Secretaria de Estado de Educação, sem contar a secretaria municipal da capital e de outras cidades, é uma demanda enorme. E com essas mudanças do ensino médio certamente esses professores precisarão ser formados no contexto da nova política pública, assim como na nova base nacional comum. Então, a formação de professores é uma demanda sempre existente.

Quais são as novidades que serão apresentadas a esse público?
Primeiro, é a formação por área, e não por disciplina. As licenciaturas hoje são Física, Química, Biologia, Matemática, Língua Portuguesa, História, Geografia... Com nova organização provavelmente o currículo, e toda a base comum nacional está indo na direção da oferta da educação básica por área, então são quatro grandes áreas: Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Matemática e Linguagens e Códigos. Essa formação por área com certeza terá uma demanda forte.
Estamos pensando também em oferecer a segunda licenciatura por áreas aos professores já licenciados.

Ainda há preconceito de cursos a distância? Os de engenharia, por exemplo?
Há alguns cursos que são mais aceitos do que outros. Por exemplo, na área de saúde, a EAD tem uma grande contribuição a dar, mas há um levante contra a EAD nessa área. Sabemos que a tecnologia tem sido usada muito intensamente na saúde e sabemos também que um curso pode ser híbrido e oferecer o melhor dos mundos, com atividades presenciais, como laboratórios, orientações, estágios, e atividades a distância com uso de tecnologia, em ambientes virtuais de aprendizagem, que trazem objetos de aprendizagem digital como simuladores, objetos em três dimensões etc, além da parte presencial, experimental, empírica. Por isso, entendo que não serão cursos cem por cento a distância nesta área. Mas alguns cursos, como o Direito, por exemplo, não há nenhuma razão acadêmica, pedagógica, para que ele não seja realizado a distância. Para nós, as engenharias que são mais afeitas à educação a distância são as que oferecemos. O aluno que faz engenharia da computação pelo computador consegue posicionar-se como usuário e como propositor, nada melhor do que fazer o curso através dos sistemas tecnológicos, assim como a engenharia de produção que com os sistemas automatizados na indústria hoje, necessitam muito mais de simuladores, por exemplo, que são muito mais precisos e atuais do que alguns laboratórios que ficam defasados ao longo dos anos em instituições físicas presenciais. Nós não pretendemos abrir engenharia civil ou outras engenharias que entendermos não ser propícia à modalidade.

Como você avalia as políticas públicas da EAD no país?
Em outros países há uma política pública muito clara. Diz-se o que é necessário, para que é e o como vai ser a avaliação das instituições. Aqui não se fala o que é, nem para o que é, mas vai dizer depois, lá na avaliação da instituição, o que era para ter sido feito. Então, somos regulados pela avaliação, e não pela política pública.

E com as novas mudanças na EAD promovidas pelo governo, o que muda?
O Decreto 5.622/2005 foi substituído pelo Decreto 9.057/2017. Neste há a possibilidade de uma instituição de ensino superior (IES) ser credenciada somente para EAD e não mais depender do credenciamento presencial. A IES que já tem o credenciamento para pós-graduação, automaticamente se credencia para graduação. Não se exige mais prova presencial e prevalecente sobre atividades a distância. São mudanças que já eram esperadas que vão em direção à maior flexibilização e ampliação da oferta de EAD no país. Ainda aguardamos o instrumento de avaliação do Inep que deverá acompanhar as mudanças. Com o novo instrumento é que saberemos como seremos avaliados e se ele também flexibilizará a EAD ou se continuará mais severo que o Decreto. Ainda não sabemos se continuaremos a ser medidos pelo instrumento rigoroso que existia ou se ele será abrandado como a regulação atual.

Há um excesso de regulação, como diz a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)?
A EAD tem referenciais de qualidade que nunca houve na presencial. Há muito mais rigor na avaliação da EAD do que de cursos presenciais. Foi colocado um modelo único, de centralização, de modelo pedagógico, de obrigatoriedade do polo, deixando pouca autonomia para as IES atuarem com modelos diferentes. Talvez, 15 anos atrás, houvesse a necessidade de todo esse aparato, pois, não havia a facilidade de acesso a computadores e internet. São poucas as IES que se aventuraram a oferecer novo modelo de EAD. Há muitas universidades internacionais que são “abertas”, nós estamos longe desse modelo.

O que deveria mudar na avalição?
Eu entendo que a regulação tem que ser regida por princípios e não por regras. Quando se põe a regra, ou seja, quando se vai para o varejo, é necessário atualizar sempre e mudanças constantes não são boas, deixam as pessoas e instituições confusas em relação aos seus objetivos. Quanto mais rege por regras, exigências de detalhes, mais complicado se tornar o gerenciamento e a assimilação. Uma Constituição, por exemplo, é regida por princípios e não por regras, e que nos dá ideias centrais de um sistema, sentido lógico, racional, que permite a compreensão e modo de se organizar. Por isso tem maior perenidade. As regras são normas que prescrevem imperativamente algumas exigências que devem ser cumpridas e quando não são há penalidades. Não me parece um bom modo de gerir a educação superior.

Como você vê o futuro da EAD?
Acho que em dez anos não haverá mais essa divisão entre presencial e a distância. A tecnologia já atingiu em cheio a sala de aula. Hoje os professores não se preocupam mais em abordar “todo o conteúdo” em sala, há muita informação na rede e há muitas fontes de informação. Muitos deixam parte do conteúdo ou de atividades no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), nem todos dão aulas semanais, alguns revezam por quinzena, os alunos fazem algo no AVA ou pesquisam na internet, entregam trabalhos, participam de trabalhos conjuntos, debatem online. Então, a diferença entre uma coisa e outra, eu imagino que em dez anos não vai mais existir. Todo curso presencial credenciado pelo MEC pode ter hoje 20% da carga horária a distância, chamado semipresencial, entretanto, no mercado em geral, o semipresencial já é 40%, 50%, 60%... O aluno muitas vezes pode escolher se ele quer fazer tais disciplinas online, tais disciplinas presenciais. Há as novas metodologias ativas com uso de tecnologias, a exemplo flipped classroom, já usada em alguns projetos no ensino superior. O que é isso? É presencial ou é a distância? Já está muito misturado e será mais. O chamado “ensino híbrido” tem muito a trazer no uso da tecnologia e na flexibilidade de presencialidade. Podemos estar a quilômetros de distância, mas próximo virtualmente. A presença ou a distância depende mais da participação do que do espaço físico. Quantas vezes temos alunos nas salas de aula que estão “longe”? E quantas vezes temos os alunos a distância que estão muito próximos, são ativos, participam? São novos paradigmas de distância: o que é essencial ser presencial e o que é possível ser a distância? Temos que entrar, de vez, no século da virtualidade!

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  • Carlos

    01 de Agosto de 2017

    Bom dia. É com muito pesar que venho compartilhar o descaso com que a UNIVESP vem tratando os mediadores devidamente concursados através do processo seletivo “Curso de Especialização em Teorias, Métodos e Práticas para Educação a Distância, para ingresso no 2º semestre de 2016”. Sem mais, nem menos, a UNIVESP cancelou a bolsa e o curso. Após manifestação dos alunos, a UNIVESP comentou que o curso continuará, mas sem bolsa. Ora, o edital é claro em seu parágrafo 2° do inciso II do Artigo 2º: “O desenvolvimento do curso fica atrelado ao recebimento da bolsa e vice-versa, não havendo, portanto, possibilidade de realização do curso sem a bolsa de ID.”. Além disso, em seu parágrafo 4º do Artigo 17, o edital diz: “A bolsa terá a vigência de até dois anos, a partir do dia 20 de julho de 2016, podendo ser encerrada a qualquer tempo, a pedido de uma das partes, desde que devidamente justificado e com um prazo não inferior a 30 dias.”. Nem isso foi respeitado. Há mediadores que deixaram seus empregos ou recusaram oportunidades de emprego, visto que a participação e permanência no curso exigia isso: “...destinado a candidatos sem vínculo empregatício ao longo do desenvolvimento das atividades teórico-práticas do mesmo”. Agora, abrem processo seletivo para “Tutor”? Colocando os alunos numa “sinuca de bico”: “Vocês terão que prestar esse processo seletivo”! Mas, por quê? O Edital de 2016 diz: “...A duração do curso será de no mínimo 2 anos, ...”. Isto é, no mínimo, falta de transparência, indo de encontro ao pregado no site da UNIVESP!
    Os alunos querem continuar o curso e com a bolsa que lhes é legalmente devida!

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